Evandro Lopes, cronista esportivo e abnegado do futebol amador e profissional de Jequié nas décadas de 60 e 70.
Charles Meira |
Evandro Lopes, o cronista esportivo e abnegado do futebol amador e profissional de Jequié nas décadas de 60 e 70. |
Evandro Lopes da Silva, filho de Feliciano Lopes da Silva e Ubaldina Lopes da Silva, nasceu em 02/1932 em Amargosa – BA. Em 1956 casou-se com Olímpia Lopes da Silva e tiveram 04 filhos. Em 1964 chegou a Jequié. Em 1992 casou-se com Lúcia Martins Azevedo, desse enlace matrimonial, nasceu Lícia Martins de Azevedo Lopes, formada em Engenharia. Evandro tem também 11 netos, 06 bisnetos e um na forma. Com 85 anos de idade o nosso entrevistado continua trabalhado como Gestor da Associação Comercial e Industrial de Jequié e aos sábados participa do programa “Movimento Lojista” apresentado pela entidade na Rádio Cidade Sol FM.
Com a divulgação desta entrevista realizada com Evandro Lopes na Associação Comercial e Industrial de Jequié, local onde trabalha, encerro a primeira parte da pesquisa, visando ampliar a história da Associação Desportiva Jequié. É minha vontade prosseguir, porém contando fatos mais recentes da trajetória do Jequié.
Evandro Lopes o primeiro agachado, jogando futebol de salão. |
Pela importância de Evandro Lopes no cenário do futebol na nossa cidade, constantemente era sugerido por pessoas da nossa sociedade a realização desta matéria com o nosso inesquecível comentarista esportivo. Em uma manhã do mês de fevereiro consegui entrevistá-lo, bate-papo que durou quase 1h. Brincando perguntei: “falamos tudo?” e ele disse: “ainda quer mais?”. Risadas.
Com a desenvoltura peculiar de um profissional ligado a área radiofônica durante mais de uma década em Jequié, Evandro iniciou o seu relato falando que a partida do nosso futebol foi dada através da Seleção Municipal de Jequié, mercê de um trabalho dele, que não vangloria, mas tem consciência que realizou, divulgando, incentivando o desenvolvimento do esporte através da Rádio Bahiana de Jequié, buscando dar uma estrutura, até então inexistente no campeonato da cidade, evento realizado com a participação de times amadores no estádio Aníbal Brito e de forma muito rudimentar, pois os seus abnegados diretores não tinham estrutura econômica e financeira para melhor apresentá-los na competição. Visando contribuir com os dirigentes, Evandro começou a fazer uma campanha na rádio, incentivando a realização de torneios inícios com a participação das equipes, premiando a melhor uniformizada, empreitada que na época surtiu efeito e deu uma melhor visibilidade e promoção ao futebol amador de Jequié.
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Depois do sucesso desta campanha no campeonato e porque tinha times dirigidos por diretores abnegados, dedicados como: Radamés Lobão, Izidório Manoel do Carmo, Deusdete Amaral, Gildásio, Bria, Baianão, auxiliar do próprio campo que fazia tudo para as coisas acontecerem bem. Evandro estruturou também um trabalho na rádio, onde fazia sempre comentários elevando o nosso futebol, alternativa que contribuiu positivamente para o crescimento de Jequié nesta área. Além dessas opções acertadas, Evandro conta que Jequié teve a felicidade também de aportar aqui alguns excelentes atletas, vindo de outras cidades, formando os bons times do Flamengo, Jequiezinho, Estudante e Mandacaru e depois a seleção de 1967 que disputou o Intermunicipal, equipe bem estruturada que perdeu na final para a Seleção de Cachoeira.
Durante a campanha de 1967 aconteceram alguns fatos interessantes e Evandro cita, por exemplo, o que teve com a Seleção de Itapetinga. Torcedores daquela cidade vieram aqui e foram tratados muito bem, inclusive conheceram a Fazenda Provisão, ponto turístico de Jequié bastante frequentado na época. Jequié ganhou de Itapetinga e alguns torcedores visitantes disseram que foram maltratados, o que segundo Evandro não foi verdade. No jogo de volta foi uma caravana de aproximadamente uns 30 carros particulares e até o prefeito na época o Sr. Waldomiro Borges. Pararam no parque de exposição que era na entrada da cidade e entraram em caravana, entretanto moradores de Itapetinga entenderam como hostilidade e isso mexeu com o brio deles e no campo a coisa foi meio grosseira. Ganharam o jogo de 2 x 1, mas diante dos fatos acontecidos, Izidório Manoel do Carmo com suas artimanhas foi à federação e conseguiu anular o jogo. A Seleção de Jequié voltou a Itapetinga com o espírito pacificado e ganhou o jogo de 2 X 1, pois Jequié era melhor. Saíram do campo acompanhado pelo prefeito até ao hotel onde estavam hospedados e depois foram embora. Na saída da cidade Evandro fez uma ligação para Jequié dizendo: “prepare uma recepção, pois ganhamos o jogo de 2x1”. A Rádio Bahaina não transmitiu este jogo. Em Jequié a seleção foi recepcionada no Colarinho e Tote Lomanto, pai de Lomanto fez um discurso, coisas daquele tempo, hoje não tem mais.
Jogo Seleção de Jequié X Seleção de Cachoeira em 1969. |
Dizendo não se lembrar de 1968, Evandro contou que em 1969 a seleção disputou o Intermunicipal com a maioria dos jogadores da boa seleção de 1967 e foi dirigida por Maneca Mesquita, técnico do time amador do Flamengo de Jequié. A Liga organizava a seleção e os radialistas, diretores e um grupo de abnegados davam suporte. Repetindo a boa campanha de 1967, novamente a seleção disputou a final com Cachoeira. A seleção ganhou aqui e perdeu lá. Evandro disse que estava no segundo jogo e na ocasião ficou hospedado na cidade de Muritiba. No domingo, dia do jogo foi pela manhã com Micheli e Wilson Senhorinho em Cachoeira para verificar como estava o clima. ”Olá, vocês por aqui, como vai, a cidade é vossa”, foram saudados por um médico no local. Voltaram alegres e falaram para os integrantes da delegação que o clima estava ótimo. No horário da partida quando a seleção veio para Cachoeira e aproximaram do campo o clima era terrível. Campo cheio, localizado na beira do rio. A Seleção de Jequié perdeu pela força, pelo ambiente carregado, sempre estourava uma briga e o juiz sempre fazia a média da casa, pois não queria problemas, coisas do futebol amador. Depois da competição, Ewerton Almeida recebeu uma paulada de um torcedor deles que em seguida pulou no rio e atravessou para o outro lado e a policia não conseguiu pegá-lo. Dedé um engraxate, também levou uma pancada. Muita gente de Jequié, uma grande caravana esteve presente e saiu muito hostilizada.
Após o relato da segunda partida contra Cachoeira, Evandro Lopes contou que foi necessário uma terceira partida para conhecer o campeão do Intermunicipal de 1969 e a disputa aconteceu no Campo da Graça em Salvador. Foi um jogo extraordinário, porque realmente a Seleção de Cachoeira tinha um time muito forte, muito bom. O jogo começou e Cachoeira fez 1x0, 2x0 e Jequié fez 2x1. Evandro, Wilson estavam na beira do campo, junto com o técnico Maneca, Foca o Massagista e o jogo era bem disputado, bem definido, então Wilson Senhorinho usou da seguinte frase: “Ta na hora de mexer no time”, Evandro disse que nunca esquece isso. E mexer no time era entrar um jogador que era titular. Maneca disse para Foca: “prepara Marcos“. Depois que Wilson disse que tinha que mexer no time e Marcos entrou, o jogo mudou e com dois lances dele, envolvendo os zagueiros e cruzando para perto da área, o time de Jequié virou o placar para 3x2, com dois belos gols do maravilhoso atacante Dilermando. E foi uma vitória estupenda.
Em seguida Evandro falou que após esta conquista, começou a criar um espírito de profissionalismo na comunidade Jequieense e que aquela seleção poderia ser o time e realmente foi, entrou apenas Chinezinho, que veio do Fluminense de Feira, que era veterano e foi fazer o meio campo com Maíca e Betinho na ponta direita e relatou como começou a Associação Desportiva Jequié.
Fizeram inicialmente uma reunião para formação da diretoria no escritório da Líder Automóveis, pois seu irmão era o dono da empresa e ele trabalhava no escritório. Depois teve outra reunião no Rotary com aproximadamente 15 pessoa, entre elas estavam: Evandro Lopes, Carlos Lopes, Maneca Sampaio, Deusdete Amaral e seu irmão, o gerente do Banco Econômico e “Vaqueiro”, para consolidação do time. Foi escolhido o nome Associação Desportiva Jequié e as cores azul, amarelo e branco. Foi convidado para dirigir a equipe o técnico Maneca Mesquita, que não aceitou, e então se buscou um treinador de Feira de Santana. Formou-se um time muito forte, voluntarioso e chegou a liderar o Campeonato Baiano de 1970.
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Evandro falou também do tempo na Rádio Bahiana de Jequié com Wilson Senhorinho, José Mariano, Eutímio Almeida que fazia a redação, Nilton Torres na parte de campo e Cidi Teixeira com toda sua dedicação. As transmissões eram feitas por Mariano e Wilson Senhorinho e ele comentava, mas era um trabalho de diletantismo e dedicação ao esporte. Não tinha salário, porém sempre dava certo, não tinha ganância, era um trabalho de quem gostava do futebol. Aliás, tinha um salário sim, ganhava um queijo cuia no São João e outro no Natal, um presente de Cidi Teixeira.
No ano de 1978, Evandro afastou-se do processo de rádio, achando que tinha feito a sua parte. Confessou que o programa que participava na rádio era fundamental na sustentação e motivação da torcida. Depois acredita que perdeu essa ligação e a ADJ deixou de ser aquele time esperançoso, que Jequié gostava e gosta até hoje. Foi o que Evandro Lopes participou. Na opinião de Evandro Lopes, se hoje não fizer uma estrutura capaz, acima de tudo ter a estrutura financeira para manutenção inicial do elenco para contratar, fica difícil administrar e manter o clube. Naquele tempo, os jogadores da ADJ não tinham salário. Edmilson era funcionário do Banco do Nordeste, Tanajura do Baneb, Marcos tinha negocio como o sogro e muitos jogadores assim. Somente os jogadores de fora ganhavam salário, os demais não, jogavam por amor a camisa. Atualmente o atual presidente “Bolinha” faz assembléias, visando à união dos amantes do clube e a prestação de contas da sua gestão, reuniões que participei de algumas e os abnegados até participam, entretanto não fazem parte do esquema. Evandro Lopes foi também Vereador de Jequié em 1972 e 1998, filiado ao PSD, hoje Democratas, ligado ao grupo de Waldomiro Borges, gerente da Líder Automóveis, proprietário da Revenda Volkswagen em Ipiaú, Chefe de Gabinete do Prefeito Walter Sampaio, fundador da Disvel em Jequié e Secretário de Gabinete do Prefeito Luiz Amaral.
* Texto editado na Revista Cotoxó de outubro de 2017.
Evandro Lopes, vereador de Jequié em 1998. |
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