Atualmente no mexicano Toluca, o técnico Renato Paiva relembrou a passagem pelo Bahia, que durou entre dezembro de 2022, quando foi contratado, até setembro do ano seguinte quando pediu demissão. Ele revelou os bastidores do Grupo City, dono da SAF do Tricolor, e contou a exigência que é feita aos treinadores dos demais clubes do conglomerado.
"Caso as pessoas não saibam e vou informar, o Grupo City tem um departamento de análise de inteligência esportiva que faz análises cirúrgicas dos jogos de cada equipe do Grupo e passado alguns dias, nós recebemos um relatório dizendo em porcentagem o quanto perto ou longe estamos da forma como joga o Grupo City. Este jogo teve 70% perto da formo como queremos que construa, na criação estamos x% perto daquilo. Os níveis de posse de bola estiveram perto ou longe. O Soriano diz, o Grupo não demite por resultados", detalhou em entrevista ao canal Flashscore Brasil, no YouTube.
A passagem de Paiva pelo Tricolor ficou marcada por momentos de turbulências como a eliminação precoce na Copa do Nordeste, com direito a derrotas para o Fortaleza por 3 a 0, em plena Arena Fonte Nova, e os 6 a 0 para o Sport, fora de casa. No Brasileirão, o time brigou contra o rebaixamento desde a primeira rodada, conquistando a permanência somente no último jogo após sua saída. No entanto, a equipe conquistou o Campeonato Baiano e chegou nas quartas de final da Copa do Brasil. Ele atribuiu os altos e baixos à renovação do elenco feita após voltar para a Série A nacional.
"Muitas pessoas queriam que Renato Paiva fosse despedido. Foi dito isso para mim e Soriano disse publicamente que não se despede por resultados. Ou melhor, o primeiro critério não são os resultados. Se perder 50 jogos alguma coisa está mal, mas acaba não sendo os resultados e sim o dia a dia que leva a esses resultados. Ele disse que demite mais rápido os treinadores que não jogam perto dos padrões de jogo do Grupo City do que propriamente se não ganhar três ou quatro jogos. Obviamente que com as contratações que tiveram isso fica mais difícil, porque jogar como eles querem quando se tem os jogadores do Manchester City é uma coisa, quando se tem com os do Girona é outra coisa, quando tem o elenco do Bahia em que tem 25 novos jogadores, sendo a maior parte deles suplentes das equipes onde estavam e querer fazer este tipo de jogo. Por exemplo, Marcos Felipe era extraordinário, mas tinha muitas dificuldades em jogar com os pés e o trabalho do Rui e de Marcos inicialmente de querer evoluir os faz um goleiro diferente. Mas tínhamos que respeitar os padrões do Grupo City mesmo com os jogadores que tivemos que trabalhar para providenciar isso. Eles quase me disseram que não era para jogar em contra-ataque. Claro que não deixava de utilizar contra-ataque, mas não era para ser o padrão de jogo, porque não era assim que o Grupo trabalha e eu poderia ser demitido por isso. Portanto, é trabalhar em estrutura, é receber essas regras, saber aceitá-las e estar disposto a isso. Tem treinadores que não estão, que querem contratar jogadores que estão fora do leque e que quer jogar de outra maneira, portanto não aceito este tipo de situação", continuou.
Paiva se disse orgulhoso por fazer parte da história do Bahia. O treinador destacou a importância da conquista do Baianão e da boa campanha na Copa do Brasil mesmo com um elenco renovado e em fase de construção.
"Fora outras questões que me motivaram a sair com algumas interferências na área da performance e da preparação física da equipe que levou a algumas lesões, mas esse é um tema que se eu me alongar vou passar por mal-agradecido. Uma coisa que quero que fique muito clara para grande parte da torcida do Bahia que é que sempre terei um tremendo orgulho de ter feito parte da história do Bahia. Ficou lá um troféu que podem diminuir a importância, mas a verdade é que esse estadual não era conquistado há três anos e agora também não ganhou. Mas não tem importância, o importante era ganhar a Copa do Nordeste. Tenho um orgulho tremendo de fazer parte da história e ter sido um dos treinadores do clube. Para muitos, o pior da história, para outros um treinador com 25 contratações novas e pouco tempo para treinar e ganhou um estadual, igualou a melhor marca na Copa do Brasil na história que foi chegar nas quartas de final e não chegamos na semifinal perdendo nos pênaltis, se não tínhamos feito a melhor campanha do Bahia. De fato, no Brasileirão e na Copa do Nordeste não fomos tão bem, reconheço", disse.
O comandante português lamentou não ter continuado no Bahia para dirigir o atual elenco após os investimentos feitos pelo Grupo City para a temporada de 2024. Ele acredita que o Tricolor voltará ao patamar onde estão atualmente clubes como Flamengo, Palmeiras, São Paulo.
"Se existe uma mágoa que eu tenho, e muito torcedores me mandam mensagens, é que bom é agora com esse elenco. Tenho muito orgulho de ter trabalhado com muitos jogadores, de ter extraído muita coisa boa deles. Mas de fato, olhar para o elenco que eu tive e o de hoje, acho que só tem dois ou três titulares, o resto não é mais titular. Alguns titulares já foram embora. Portanto gostaria muito de ter esse elenco que não tive. Fui embora por minha responsabilidade, se não quisesse não teria ido embora. Mas hoje ganhar as coisas seria um pouco diferente. Muito orgulhoso de ter treinado um clube como o Bahia", comentou. "Estar no Campeonato Brasileiro foi um crescimento para mim a nível profissional e pessoal. Ter feito parte do segundo e mais difícil campeonato, para mim, é um orgulho tremendo. E ter feito parte dos quadros de um gigante como é o Bahia, primeiro campeão do Brasil que de fato há tempos não é e eu peguei quando tinha acabado de subir da Série B. Mas no meu tempo, o Bahia estava muito longe um Flamengo, de um Palmeiras, de um São Paulo, mesmo sendo um dos grandes do Brasil. Poderá se aproximar? Vai, não tenho dúvida, porque o Grupo City vai continuar investindo, como investiu dessa vez", completou.
Renato Paiva foi contratado pelo Toluca no início de dezembro do ano passado. Sob o seu comando, o time mexicano disputou 21 jogos, com 10 vitórias, seis empates e cinco derrotas.
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